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Médicos dos EUA voluntários em Gaza denunciam genocídio e garantem só ter visto civis nos hospitais

operamundi.uol.com.br

Em carta aberta à Casa Branca, 99 médicos, enfermeiros e parteiras norte-americanos que trabalharam como voluntários em Gaza relataram as atrocidades cometidas pelo Exército israelense no enclave palestino. Eles exigem que o governo de Joe Biden imponha um cessar-fogo imediato às partes, suspenda todo o apoio militar, econômico e diplomático a Tel Aviv e “apoie um embargo internacional de armas a esse país e a todos os grupos armados palestinos”.

“Tanto pela lei norte-americana quanto pelo Direito Internacional Humanitário nos obriga a isso”, diz a missiva publicada no começo de outubro.

Todos os signatários foram voluntários na Faixa de Gaza que passaram, somados, um total de 254 semanas em hospitais e clínicas de Gaza desde 7 de outubro de 2023. O documento traz seus testemunhos.

“Nunca vi e tratei ferimentos tão horríveis, numa escala tão grande, com tão poucos recursos. Nossas bombas estão matando mulheres e crianças aos milhares. Seus corpos mutilados são um monumento à crueldade”, disse o organizador da carta, Feroze Sidhwa, cirurgião do Departamento de Assuntos de Veteranos de Guerra dos EUA.

Desnutrição e doenças

A carta afirma que “todas as pessoas em Gaza foram fisicamente afetadas pelo genocídio, tendo ficado doentes, feridas ou ambos”. Ainda segundo o grupo, o impacto em crianças menores de cinco anos “foi particularmente devastador.”

“Praticamente todas as crianças menores de cinco anos que encontramos, dentro ou fora do hospital, tinham tosse e diarreia. Vimos casos de icterícia (indicativo de hepatite A) em quase todos os quartos dos hospitais em que servimos e entre os colegas de saúde. Uma porcentagem surpreendentemente alta de nossas cirurgias foi infectada pela combinação de desnutrição, condições operacionais impossíveis, falta de suprimentos cirúrgicos e medicamentos básicos e até falta de sabão”, afirmam os signatários.

O grupo apontou diversos males que foram registrados após a escalada das ações militares de Israel em Gaza. Em um dos pontos, declararam que desnutrição em mulheres “está causando altas taxas de abortos espontâneos”. Além disso, bebês estão nascendo abaixo do peso e as mães “incapazes de amamentar pelas severas restrições calóricas”.

“Com a falta de água potável, as fórmulas infantis são misturadas com ‘água venenosa’. Muitas dessas crianças perecem vítimas das várias doenças infecciosas que correm descontroladamente pelos acampamentos improvisados e repetidamente bombardeados”, disseram.

Crianças na mira

Sobre os ferimentos em crianças, o documento é contundente: “[cada] um de nós que trabalhou em uma emergência, tratamento intensivo ou ambiente cirúrgico tratou regularmente ou mesmo diariamente crianças e pré-adolescentes baleadas na cabeça ou no peito. É impossível que tal quantidade de crianças alvejadas por toda Gaza, de sustentada ao longo de um ano inteiro, seja acidental ou questão desconhecida pelas mais altas autoridades civis e militares israelenses”.

“Gaza foi a primeira vez que segurei o cérebro de um bebê em minhas mãos. A primeira de muitas”, disse o cirurgião Mark Perlmutter.

Os médicos denunciam, uma vez mais, como hospitais e profissionais de saúde são “alvos deliberados das forças israelenses”, e garantem que jamais viram qualquer sinal de atividade militante palestina nos hospitais e centros de saúde onde atuaram.

Estima-se que mais de 80% da infraestrutura de saúde de Gaza tenha sido destruída e mais de mil profissionais de saúde mortos. O documento descreve a situação desses profissionais:

“Desnutridos e devastados física e mentalmente, nossos colegas palestinos, estão entre os mais traumatizados em Gaza, talvez no mundo. Como praticamente todos ali perderam familiares e suas casas. A maioria vivia dentro e ao redor de seus hospitais com o que sobrou de suas famílias, em condições inimagináveis. Embora continuassem trabalhando numa rotina extenuante, não recebiam pagamento desde 7 de outubro e estão perfeitamente conscientes de que eram alvo das forças de Israel”.

Fome como arma de guerra

Oficialmente, a guerra já causou mais de 42 mil mortes, às quais devem ser somados milhares de soterrados – mais de 10 mil, calculava o Ministério da Saúde de Gaza. As vítimas indiretas, porém são muito mais. Só as infecções, estimam os autores da carta, mataram cerca de 119 mil pessoas em Gaza no último ano, “a maioria crianças pequenas”.

“Sem antibióticos, eletricidade, água limpa e comida, doenças e infecções são inevitáveis”, afirma o documento. Israel barrou a entrada de ajuda humanitária.

A missiva lembra e reforça as conclusões do relator especial da ONU, Michael Fakhari, sobre a “fome deliberada” de Gaza. “Nunca na história do pós-guerra uma população foi levada a passar fome tão rápida e completamente como foi o caso dos 2,3 milhões de palestinos que vivem em Gaza.”

Atualizando as estimativas feitas pela revista The Lancet em julho, os sanitários calculam que mais de 208 mil palestinos já morreram em Gaza em decorrência direta ou indireta da guerra. Um terço das vítimas (33%) são crianças, 18% mulheres e 7% idosos. A isso é preciso somar quase 100 mil feridos e mutilados pelo conflito.

Só a violência direta matou 710 recém-nascidos e 1.400 menores de dois anos. Nenhum outro conflito na memória viva matou, em 11 meses, 1% das crianças de um território apenas por meio da violência. Isso equivaleria a 743.700 crianças nos Estados Unidos”.

Sinais de tortura

Em fevereiro, Save the Children estimava que mais de 17 mil crianças estavam desacompanhadas. Em maio, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos relatou que mais de 390 corpos foram achados em valas comuns nos hospitais Nasser e Al Shifa, incluindo mulheres e crianças com sinais de tortura, execução sumária ou de terem sido enterradas vivas.

“Nenhum outro conflito armado no século 21” teve “um impacto tão devastador sobre uma população em período de tempo tão curto. Só encontramos 100 dias com maior derramamento de sangue, em 1994, no genocídio contra os tutsis em Ruanda”, afirmou o relatório da Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental (CESAO) das Nações Unidas.

Os voluntários lembram que eles foram os únicos observadores neutros autorizados a entrar na Faixa de Gaza. Pelo que viram, imploram que seu governo imponha um imediato e permanente cessar-fogo. “Basta interromper as remessas de armas para Israel e apoiar um embargo internacional de armas para Israel e para os grupos armados palestinos”, disseram.

No último ano, os EUA já enviaram a Israel mais de 50 mil toneladas de armas e equipamento militar, ao ritmo de 137 toneladas ao dia. O Financial Times destacou os grandes lucros obtidos pelas corporações que fabricam esses materiais.

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